segunda-feira, 18 de abril de 2011

Roberto Rocha, um poensse exemplo de vida, luta, conquista e vitórias. Um cidadão Poaensse, agora, cidadão do mundo.

Na edição 1495 no dia de ontem do Diário do Alto Tietê, li uma matéria que fala de um poaensse, que é um exemplo de vida. Mais um cidadão que podia ter tomado outros rumos, afinal, quantos filhos a cidade já perdeu, mas Golfino mostrou que ainda existe solução.

Republico a matéria aqui no meu blogue, em homenagem a este grande cidadão poaensse Roberto Rocha.

A mídia em tela, meus agradecimentos por reconhecer este filho de Poá, agora, cidadão do mundo.





Outro mundo possível
O choque sofrido ao ver o filho armado deu uma reviravolta na vida de Roberto Rocha. Ele deixou a malandragem para puxar carrinho de papel nos trechos da vida. Assim, ele conheceu a reciclagem que o abriu as portas para um outro mundo
Vivian Turcato
De Poá
Daniel Carvalho
Perfil

Nome: Roberto Rocha
Idade: 36 anos
Estado Civil: Casado
Frase: "Do lixo à cidadania"
Imagine uma carcaça de geladeira. Duas rodas e dois cabos. Com este "carrinho" improvisado o catador de lixo Roberto Rocha começou a sua trajetória que está muito longe de chegar ao fim. Do dia que viu seu filho, com dois anos de idade, com uma arma na mão durante uma festa na sua casa até hoje, muita coisa aconteceu na vida deste poaense, que já conheceu mais de 15 países graças ao lixo. Rocha ajudou a fundar a Cooperativa de Reciclagem Unidos pelo Meio Ambiente (Cruma) que hoje conta com 60 cooperados, atua em 18 bairros, atendendo a aproximadamente dez mil residências, fazendo a coleta seletiva na cidade, coletando em média 80 toneladas mensais de material reciclável.

Além disto, ele também é um dos cinco articuladores do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), que conta com 85 mil filiados em todo o Brasil. Ele consegue ter tempo ainda para presidir a rede de cooperativas Cata Sampa. Nesta entrevista, Rocha explica a importância do trabalho em conjunto para superar as dificuldades e os preconceitos na vida dos catadores de lixo reciclável. E resume toda sua história assim: "bastou acreditar que era possível".


Diário do Alto Tietê: Como surgiu a ideia da Cruma?
Roberto Rocha:
 Ele é um projeto de um conjunto de catadores que, por conta da exploração que tínhamos na hora de vender o material em ferro velho, a gente se uniu para sair daquele processo de exploração. No inicio, a gente nem sabia direito o que fazer, não sabíamos o que envolvia o nosso trabalho de uma maneira geral, assim como sabemos hoje. Queríamos coletar material e que de alguma forma fosse melhor comercializado para melhorar a nossa renda. A gente tinha um amigo que contava com um terreno da família dele, na Vila Varela, e tinha um espaço que ele nos emprestou para deixar o nosso material. Aí a gente começou a entender como era. Só que não sabíamos o que queríamos, só que a forma de trabalho teria que ser coletiva. Sem ter um dono. Na ironia do destino, estava fazendo uma coleta e encontrei o jornal "O Trecheiro", feito em São Paulo, para os moradores de rua e catadores de lixo, que falava de uma cooperativa que ficava em Pinheiros, a Coopemar (Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis da Região Oeste), a primeira do Brasil de catadores de lixo. Mostrei aos amigos e achamos legal. Aí, começou todo o processo. Varava estação de trem para conhecer o trabalho do pessoal, porque não tinha dinheiro para a passagem. Até que entramos na questão de formar uma cooperativa. Discutimos o nome, e o vencedor foi Cruma. Começamos esta empreitada e teve toda dificuldade burocrática para constituir a cooperativa, o que não foi nada fácil. Não foi tão simples, foi tudo na raça e com muita ajuda de Deus.

DAT: Com tantas dificuldades, como conseguiram montar toda esta estrutura atual?
Rocha:
 Na verdade foi mais uma ironia do destino. Quando a gente foi para conhecer esta cooperativa, estava para iniciar o primeiro curso de formação para catadores no Brasil. Fui convidado para participar e comecei a criar amizade na área e entender um pouco do processo. Na verdade, esta formação foi o que me despertou para o entendimento do nosso trabalho. Nessa época ainda tinha muito preconceito contra o catador de lixo. As pessoas viam como uma coisa que fosse o que poderia ser a última coisa que uma pessoa tinha para fazer na vida. Tinha muita discriminação, fizemos este curso e para mim isto deu uma despertada, como o espinafre para o Popeye (risos). A primeira coisa que comecei a entender é que este trabalho que exercemos, em primeiro lugar, é igual a qualquer outro e, em segundo, é uma atividade de muita relevância. Uma vez que você está fazendo educação ambiental, tirando resíduos que poderiam ir para um aterro sanitário, então este entendimento fez que a gente começasse a trabalhar em dois campos. Um com a prefeitura para implantar a coleta seletiva na cidade, porque a gente não estava fazendo nada de errado, pelo contrário, estamos contribuindo, e isso nos fortaleceu bastante. Outra coisa foi a parte de trabalho, eu queria conhecer mais as experiências no Brasil. Eu conhecia algumas pessoas da Igreja Católica e comecei a conhecer a realidade no Brasil.

DAT: Qual a relação do Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA) com a Cruma?
Rocha:
 Eu conheci o coordenador deste programa e conseguimos articular que o PNMA na nossa região (Poá, Ferraz de Vasconcelos, Biritiba Mirim e Salesópolis) fosse revertido para o que é hoje. Então em todos os municípios tem um galpão como este (o galpão do Cruma conta com 2 mil metros quadrados e capacidade para 250 toneladas), entre vários outros pontos que o programa federal abrange. Conseguimos um caminhão, uma balança e uma prensa há seis anos. Depois por conta do processo de articulação formamos o Movimento Nacional dos Catadores, do qual fui um dos fundadores, e o então presidente Lula começou a se encontrar conosco todo final de ano em São Paulo. E isso ajudou bastante porque conseguimos criar linhas de financiamento para as cooperativas, o que nunca houve no Brasil. Agora temos financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), financiamento da Petrobras, do Banco do Brasil, para formação, para capacitação e para meios de trabalho.

DAT: Quanto um cooperado da Cruma recebe mensalmente?
Rocha: 
A gente já teve várias fases na cooperativa. Já houve uma época em que a gente recebia R$ 50 por mês. A gente tinha muita solidariedade entre nós. Tenho muita saudade desta época. A gente dividia o dinheiro entre todos para ninguém ficar sem, uma coisa muito bacana. Era muito pouco o que a gente recebia. Passou outro momento que a gente começou a organizar melhor, porque começamos a ter custos que precisam ser pagos. Nesta fase a gente vendia, tirava as despesas e rateava o total em partes iguais de acordo com a proporção de trabalho de cada um. Hoje, trabalhamos com metas de trabalho. Porque aumentou muito a demanda de entrada de material e as despesas também. A gente precisa ter uma meta de ganho, que é acima do salário mínimo. Então, um cooperado ganha em torno de R$ 600 mais uma cesta-básica. O nosso processo operacional está começando a ser profissionalizado então o vínculo da solidariedade está se perdendo um pouco. Você tem que exigir meta e isso é um trabalho muito difícil para mim e para os mais antigos, porque é um momento que começa a exigir muito da gente.

DAT: Quem são os clientes da cooperativa?
Rocha:
 Boa parte para indústrias da região. Para papeleiras e grandes aparistas, temos critérios para vender para uma empresa. A gente não vende para quem não emite certificado ambiental que demonstre de fato que está fazendo o ciclo da forma correta. Antigamente a gente vendia para qualquer um.

DAT: Como se tornou um catador de lixo?
Rocha:
 Eu vim do movimento Hip Hop, minha esposa também. A gente não tinha muita chance. Eu tinha muita tendência para a malandragem e uma vez teve uma festa em casa e meu filho estava com uma arma na mão. Aquilo me deu um choque. Ele poderia morrer por uma burrada minha. Decidi sair dessa vida. Peguei uma carcaça de geladeira e fui para a rua catar papel. Hoje, é interessante, tudo para mim é questão de destino. Conheci já 15 países por conta do meu trabalho. Só bastou acreditar que era possível.


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